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Perícia em locais de crime - Parte I

A investigação da cena do crime é o ponto de encontro entre a ciência, a lógica e o direito. Analisar a cena de crime é um procedimento longo e minucioso, que envolve a documentação das condições do local e a coleta de qualquer vestígio físico que possa ajudar a elucidar o que aconteceu.


Cada item coletado deve ser preservado, identificado e registrado imediatamente. Ao coletar vestígios no local de crime, o perito tem como objetivos principais: reconstruir o crime, indicar a pessoa que o praticou, preservar os fatos de uma maneira que toda a cena possa ser entendida no tribunal. Por isso que costuma-se dizer que o perito deve perpetuar o local de crime.


Os vestígios podem incluir resíduos de armas de fogo, resíduos de tinta, produtos químicos, vidro e drogas ilícitas. Para coletar o material, o perito precisa usar pinças, recipientes de

plástico com tampa, envelopes plásticos, papéis absorventes, e uma faca. Ele também pode precisar de um kit de risco biológico à mão, contendo luvas de látex descartáveis, botas, máscara, avental e um saco plástico para coleta de resíduos de risco biológico.


Se o crime envolver as roupas da vítima, ou de qualquer pessoa que possa estar envolvida com a ocorrência, o perito deve colocá-las em sacos plásticos selados e lacrados, para transporte ao laboratório.


Se forem encontradas drogas ilícitas ou pós desconhecidos no local, ele poderá coletá-los usando uma faca e selar cada amostra em um recipiente estéril separado. Todas os vestígios encontrados serão enviados para análise no departamento apropriado.


A investigação da cena do crime é um empreendimento enorme, e não conseguiríamos abordá-lo corretamente em apenas um artigo. Então, nessa primeira parte, vamos começar do começo: o reconhecimento de cena.


Examinando o local de crime

Existem vários padrões de pesquisa disponíveis para o perito aplicar, para garantir a cobertura completa e o uso mais eficiente dos recursos. São eles:


Análise em espiral interna: O perito começa a varrer o perímetro da cena convergindo em direção ao centro. Padrões espirais são mais eficientes quando há apenas um profissional na cena.











Análise em espiral externa: O perito começa varrendo a cena pelo centro dela, e caminha para fora.















Análise paralela: Indicada para quando há mais de um profissional na cena. Nesse caso, os membros da equipe formam uma linha, e caminham por ela, na mesma velocidade, de um extremo ao outro.












Análise em grade: A pesquisa na grade consiste simplesmente em duas pesquisas paralelas, deslocadas em 90 graus, executadas uma após a outra.













Análise por zona (ou região): Nesse caso, o perito responsável divide a cena do crime em setores, e cada membro da equipe analisa cada um deles. Os membros da equipe podem alternar setores e procurar novamente para garantir uma cobertura completa.










O que se busca?

Ao pesquisar a cena o perito deve procurar por detalhes e, principalmente, por sinais de anormalidades, incluindo:

  • As portas e janelas estão trancadas ou destrancadas? Abertas ou fechadas? Existem sinais de entrada forçada, como marcas de ferramentas ou travas quebradas?

  • A casa está em boas condições? Se não, parece que houve uma luta ou estava apenas bagunçada?

  • Há cartas ou outros tipos de correspondências? Foram abertas?

  • A cozinha está em boas condições? Existe algum alimento parcialmente comido? A mesa está arrumada? Se sim, para quantas pessoas?

  • Existem sinais de festa, como copos ou garrafas vazios ou cinzeiros cheios?

  • Se houver cinzeiros cheios, há marcas de batom, ou dentes, nos filtros? Que marcas de cigarro estão presentes?

  • Existe algo que parece fora de lugar? Um copo com marcas de batom no apartamento de um homem ou um sapato masculino no apartamento de uma mulher?

  • Existe algum móvel fora do ambiente apropriado, ou algum deles bloqueando uma porta?

  • Há lixo nas latas de lixo? Existe algo fora do comum no lixo? O lixo está revirado como se alguém estivesse procurando algo no lixo da vítima.

  • Os relógios mostram a hora certa?

  • As toalhas do banheiro estão molhadas? Faltam toalhas de banho? Existem sinais de limpeza?

  • Se o crime foi cometido com arma de fogo, quantos tiros foram disparados? O perito tentará localizar a arma, cada projétil, cada invólucro e cada buraco de bala.

  • Se o crime foi cometido com uma facada, esta faca pertencia à cozinha da vítima? Ou o criminoso a trouxe com ele?

  • Existem pegadas nos pisos internos, ou na área imediatamente fora do local?

  • Há respingos de sangue no chão, paredes ou teto?

Montando o quebra-cabeça

Como os vestígios, como o formato das gotas de sangue, rigidez do cadáver e outros detalhes ajudam na investigação:


POSIÇÃO DO CADÁVER

Os peritos examinam a posição do cadáver para saber se ela é compatível com o possível instrumento causador da morte e/ou com seus ferimentos. O propósito é indicar se o corpo realmente sofreu o impacto previsto ou se pode ter sido movido pelo criminoso.


RIGIDEZ CADAVÉRICA

Até três dias após o assassinato, os peritos conseguem determinar o horário exato do crime. As manchas verde-azuladas, que marcam o início da decomposição, começam a surgir após as primeiras 24 horas após a morte. Depois de 72 horas, surgem os insetos e vermes decompositores. Examinando seu ciclo de reprodução, é possível estimar a hora em que o crime ocorreu.


RESÍDUOS CORPORAIS

Além das digitais, as mãos também podem oferecer outro indicador importante: as unhas. Pode haver restos de pele do agressor sob as unhas da vítima, ou vice-versa. Esses vestígios são colhidos pelos peritos, para serem examinados posteriormente em laboratório.


SANGUE

O sangue da vítima, além de definir seu código genético, pode indicar se ela fez uso de álcool ou drogas.


ANÁLISE DAS MANCHAS DE SANGUE

O tamanho e o formato das gotas de sangue indicam como ocorreu a agressão. Gotas arredondadas mostram que o sangue caiu de uma altura pequena, enquanto gotas de formato irregular apontam que o sangue espirrou de uma altura maior. Caso as manchas tenham sido eliminadas com água e sabão, elas ainda podem ser rastreadas com o uso do Luminol*, um composto químico que reage com o ferro presente no sangue. Os peritos espalham o produto pelo chão e jogam luz ultravioleta, fazendo brilhar os locais onde havia sangue.


Continuaremos a falar sobre esse tema na próxima matéria do blog. Aguarde!




Fontes:

How Crime Scene Investigation Works - JULIA LAYTON

Crime scene investigators. What does their work really look like? - Jason Hunt

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