A morte, como ela é
Atualizado: 19 de out. de 2019

Ser imortal, à primeira vista, pode parecer irresistível, mas é a percepção da finitude da vida que torna tudo mais emocionante e que dá cor à nossa existência. De acordo com a professora de psicologia da morte da USP, Maria Júlia Kovács, “Nós nos organizamos para a morte. A partir dos 4 anos, a criança já sabe que vai morrer um dia. Sabemos que vamos perder pessoas e situações, e que devemos nos preparar para isso”.
Mas o fim é inexorável, e nosso organismo não foi feito para viver para sempre. Nosso coração vai parar de bater, pararemos de respirar e, como a chama de uma vela, nosso cérebro vai se apagar. E, independentemente do motivo que te levou a esse momento, que pode ter sido um acidente, uma doença ou uma circunstância inesperada, a vida acabará ali. Porém a morte, e suas consequências, está apenas começando.
ESTÁGIOS POST MORTEM
0 minuto
Ao contrário do que diz a expressão de que fulano de tal “caiu duro no chão” ao morrer, nosso corpo fica totalmente flácido. Isso ocorre porque o sistema nervoso deixa de liberar os neurotransmissores que contraem os músculos.

5 minutos
Após a cessação dos batimentos cardíacos e da respiração, o corpo deixa de responder a estímulos externos.
1 hora
O sangue começa a coagular, começando pelas veias por onde o sangue corria mais lentamente. Já nas artérias, o sangue sofre os efeitos da gravidade, e escorre para baixo, deixando a pele azulada nas regiões onde se acumula.
2 horas
Com a queda da temperatura, devido à falta de circulação, o corpo começa a resfriar. Ele sai de, aproximadamente, 36,5°C e vai caindo 1°C por hora, até entrar em equilíbrio com o ambiente.
3 horas
Quando as reservas de ATP dos músculos acabam, o corpo enrijece. Quanto mais músculos a pessoa tiver, mais seu corpo vai demorar para endurecer, pois suas reservas de energia eram maiores. A primeira parte do corpo que enrijece é o rosto, porque são músculos menores, depois endurecem os ombros, os braços e o tórax.
De 5 a 8 horas
As células das paredes dos vasos necrosam e ficam frágeis, principalmente nos capilares dos dedos, que são mais finos, em decorrência da falta de oxigênio. Na sequência ocorre a hipóstase, quando o sangue sai dos vasos e impregna os tecidos vizinhos.
8 horas
Com a continuidade do enrijecimento, os músculos das pernas se contraem. Em virtude disso, os joelhos do cadáver podem ficar um pouco dobrados. O mesmo ocorre com os dedos, que podem ficar levemente fechados.

12 horas
O corpo humano é formado por aproximadamente 60% de água, ou seja, uma pessoa de 60 kg tem 36 litros de água no organismo e, quando ela evapora, os tecidos se retraem. Os olhos ficam fundos, os lábios escuros, e os pelos e unhas parecem crescer. Porém, na verdade, é a pele que se retraiu.
24 horas
Ainda em decorrência da evaporação de água, o corpo vai perdendo sua massa progressivamente. Um adulto de 75 quilos pode perder até 1,3 quilo nas primeiras 24 horas. Se o cadáver estiver no calor, ao ar livre, pode ficar completamente seco nesse período, como ocorre com as carcaças de animais no deserto.
2 dias
O corpo incha com os gases liberados com a ação das bactérias. O cheiro é característico da decomposição das proteínas do corpo. Com o rompimento dos alvéolos pulmonares pode escorrer, pela boca e narinas, um líquido avermelhado.
3 dias
Os tecidos musculares já estão se decompondo, então, o corpo, que até então estava rígido, volta à flacidez. A ordem é a mesma do endurecimento: primeiro a cabeça, depois braços e tronco e, por fim, as pernas.
Mais de 7 dias
Se o corpo estiver em um ambiente com muita umidade e temperatura alta, a gordura do corpo em decomposição reage com sais do solo (como o potássio) e o cadáver fica macio e escorregadio, como um sabão. Em seguida, o corpo começa a desaparecer até sobrarem só os ossos.
MAS AFINAL, DO QUE MORREMOS?
A morte, juridicamente falando, é divida em dois grupos:
- Morte natural;
- Morte violenta.
No caso da morte natural, a causa pode ser o envelhecimento natural ou em decorrência de doenças. No caso de morte violenta, as causas podem ser muitas: acidentes dos mais diversos tipos, afogamento, envenenamento, etc. E, em cada uma dessas causas, seus efeitos serão determinantes para a extinção da vida. Vamos conhecer quais são esses efeitos, por causa mortis.
MORTE VIOLENTA
- ACIDENTES
Os acidentes, em geral, matam pela perda de sangue. Seja por falta de irrigação nos órgãos principais, o coração pode parar de bater porque não consegue se encher mais, seja por falta de oxigenação no cérebro. Descreveremos, a seguir, alguns dos acidentes mais comuns nas certidões de óbito.

· AFOGAMENTO
A morte ocorre porque a água inalada obstrui a faringe e chega aos alvéolos pulmonares, que deveriam estar cheios de oxigênio, e não de líquido.
· ESTRANGULAMENTO
Com o esmagamento da carótida e da jugular, o fluxo de sangue no cérebro para. A pressão na região pode também afetar o ritmo dos batimentos cardíacos. Ou seja, o estrangulamento interrompe o funcionamento dos dois órgãos mais importantes para a vida: cérebro e coração.
· CARBONIZAÇÃO
Apesar do fogo queimar os tecidos do corpo, o que também causaria a morte, nos incêndios a asfixia mata antes. Assim como acontece no afogamento, é a falta de oxigênio que faz com que uma pessoa morra.
· ENVENENAMENTO
Cada veneno age de uma maneira. A morte por cianeto, preferido dos autores de romances policiais, acontece por causa de ligações químicas do veneno com o ferro do sangue, que é essencial para a respiração celular. É o ferro, afinal, que carrega o oxigênio. Sem ele, as células morrem.
MORTE NATURAL
· FALÊNCIA MÚLTIPLA DE ÓRGÃOS
Uma das principais causas da falência múltipla de órgãos é o choque séptico. Quando o sistema imunológico não consegue deter uma infecção, os vasos sanguíneos se dilatam, fazendo com que a pressão caia e o coração não se encha mais adequadamente. Com os batimentos fora do ritmo, os órgãos vitais ficam sem sangue e param de funcionar.

· CÂNCER:
Os tipos mais comuns de câncer, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), são: de pulmão, mama, colo-retal e estômago. Independentemente do tipo, a morte ocorre sempre em decorrência da metástase. Esse é o nome dado quando as células cancerígenas, que se multiplicam descontroladamente, entram na corrente sanguínea ou no sistema linfático, e atingem áreas vitais do corpo, como pulmões, ossos e cérebro. Sufocadas por células doentes, as células saudáveis deixam de funcionar.
Fontes:
The Undead: How Medicine Is Blurring the Line Between Life and Death
– Dick Teresi, Pantheon, 2012
Death to Dust: What Happens to Dead Bodies
– Kenneth V. Iserson, Galen Press, 1994