Beverley Allitt (nascida em 4 de outubro de 1968) é uma assassina em série britânica, conhecida como "Anjo da Morte" (The Angel of Death, em inglês) por atacar crianças na ala infantil de um hospital em Grantham, Lincolnshire, havendo vitimado treze delas, das quais quatro foram a óbito.
Em seus ataques a enfermeira ministrava, nas vítimas, injeções contendo substâncias como potássio, insulina ou simplesmente ar, causando-lhes reações adversas. Na época dos ataques ela estaria sob efeito da “Síndrome de Münchhausen por Procuração”. Por seus crimes ela recebeu treze condenações de prisão perpétua, com direito a liberdade condicional em trinta anos, o que deve ocorrer em breve, daqui a apenas 3 anos. Até o momento, ela se encontra detida no Rampton Secure Hospital em Nottinghamshire, Inglaterra.
Atuando de forma dissimulada, os pais de suas vítimas a viam como alguém prestativo e confiável, que lhes dedicava especial atenção, principalmente quando as coisas se tornavam sérias.
A região de Lincolnshire onde vivia Beverley tinha uma população de cerca de 100 mil habitantes, dos quais um terço eram crianças. Ao ano nasciam aproximadamente duas mil crianças, a maioria delas no Grantham and Kesteven Hospital, onde Beverley foi contratada para suprir a falta de pessoal.
Sua contratação temporária, por seis meses, não teria acontecido caso houvesse um procedimento mais rigoroso naquele período: a garota, então com vinte e três anos de idade, apresentava um histórico de várias internações por doenças inventadas, falhara muitas vezes nos exames de enfermagem e já havia sido recusada em outro hospital a apenas 48 quilômetros dali.
Seu histórico de mentiras somente foi descoberto após o inquérito policial. Descobriu-se que Beverley, desde criança, usava bandagens e simulava ferimentos para atrair a atenção, embora não permitisse que lhe examinassem. Quando adolescente teve excesso de peso e desde então apresentava um temperamento volátil, ficando agressiva e simulando uma série de doenças que a levavam frequentemente ao hospital. Doenças tais como dores na vesícula biliar ou de cabeça, infecção urinária, vômitos, visão turva, apendicite, dentre muitos outras, que eram por ela apresentadas para se fazer atendida em hospitais a ponto de ter convencido um médico a lhe extrair o apêndice saudável que, em seguida, não se curava porque ela removia os curativos cirúrgicos.
Os Crimes
A primeira criança a morrer sob as ações da enfermeira foi Liam Taylor, de apenas sete semanas de idade. Internado no dia 21 de fevereiro, Liam apresentava um quadro de pneumonia leve (embora os pais acreditem que se tratava apenas de um caso de pulmões congestionados), e foi levado para a ala infantil do hospital onde Beverley logo se mostrou prestativa aos pais e os mandou descansar; quando voltaram, no dia seguinte, o filho havia piorado, mas Beverley já havia providenciado os cuidados emergenciais. A enfermeira se ofereceu para continuar dando assistência ao garoto, mas os pais decidiram permanecer ali. À meia-noite, do segundo dia de internação, Liam teve nova crise respiratória, e deixaram Beverley sozinha com ele. Quando seu quadro se tornou realmente grave, ela chamou os outros enfermeiros, que estranharam o fato de que os alarmes dos aparelhos que o monitoravam não haviam soado, mesmo estando em parada cardíaca. Após grande esforço pora fazerem-no voltar a respirar, já haviam ocorrido danos cerebrais irreversíveis. Diante disto, seus pais tomaram a decisão de desligar os aparelhos. Liam morreu por conta da insuficiência cardíaca, sem qualquer histórico de problemas nesse órgão. Beverley assistiu a tudo e, após o óbito que provocara, foi embora para casa e voltou para trabalhar normalmente na tarde seguinte.
Timothy Hardwick tinha 11 anos e apresentava deficiências físicas e mentais quando foi internado. Após três horas no hospital foi a óbito em decorrência de um ataque cardíaco. Quando chegou, apresentava uma crise epiléptica e Beverley prontificou-se a atendê-lo, demonstrando preocupação por seu estado; depois de ficar sozinha com ele por alguns minutos ela apareceu pedindo ajuda. Quando a equipe da emergência chegou, constatou que o menino tivera uma parada cardíaca. Após várias tentativas de ressuscitação, sem sucesso, Timothy foi a óbito, demonstrando um quadro totalmente inesperado e, mesmo a autópsia, não conseguiu determinar a causa de sua morte, tendo sido esta reputada oficialmente à epilepsia.
Apenas cinco dias após, em 3 de março, uma menina com pouco mais de um ano de vida, Kayley Desmond, foi internada com o peito congestionado e foi atendida por Beverley; ela ficara no mesmo leito que Liam morrera, mas parecia estar melhorando até que teve uma parada cardíaca. A equipe de prontidão conseguiu ressuscitá-la. Depois disso, a transferiram para outra unidade médica em Nottingham onde, após um minucioso exame, localizaram um orifício de punção sob a axila, próximo ao qual havia uma bolha de ar; como atribuíram aquilo a uma injeção acidental, não houve uma investigação e Beverley continuou sem ser descoberta realizando outros três ataques, em quatro dias.
A 20 de março um bebê de cinco meses, Paul Crampton, foi levado à unidade infantil com um caso de bronquite, que não foi tido como grave. Pouco antes de sua alta, entretanto, a enfermeira gritou por ajuda pois a situação tivera um súbito agravamento. Com um quadro grave de hipoglicemia, ele entrou em estado de coma por três vezes. Desta vez os médicos ficaram desconfiados com a causa que teria levado à constante queda do nível de açúcar em seu sangue. Ele foi transferido e sua taxa de insulina elevou-se. Embora não tenha morrido, o bebê esteve bem perto de perder a vida.
No dia 21, o garoto Bradley Gibson, então com cinco anos, estava internado com pneumonia e sofreu um ataque cardíaco. Ele foi salvo pela equipe médica depois de muito esforço, e sua taxa de insulina estava muito alta, o que não fazia sentido. Durante a noite, após ser atendido por Beverley, sofreu outro ataque e foi transferido para Nottingham onde, afastado da enfermeira, se recuperou. Novamente ninguém levantou suspeitas de sua atuação, e ela esperou um dia antes de fazer um novo ataque.
A nova vítima foi um menino de dois anos, Yik Hung Chan, que fraturara o crânio ao cair de uma janela. Beverley acionou o alarme quando o paciente ficou azulado e parecia estar tendo um ataque. Num primeiro momento respondeu ao oxigênio, mas, em algumas horas, voltou a repetir os sintomas e foi transferido para Nottingham onde os sinais foram interpretados como consequência da queda.
As gêmeas Katie e Becky nasceram prematuramente em janeiro de 1991 em Nottingham, e foram transferidas para o Grantham and District Hospital onde Beverley ministrou-lhes insulina. Becky não resistiu e morreu, ao passo que sua irmã sobreviveu com sérias sequelas intelectuais e motoras. A autópsia realizada não revelou uma razão clara para o óbito.
Em agradecimento à atuação de Beverley, que havia simulado preocupação e cuidados às prematuras, a mãe das meninas a convidou para ser madrinha de Katie, e a perversa enfermeira, que causara todo o sofrimento, aceitou a honraria.
Os ataques continuaram vitimando outras quatro crianças mais ou menos saudáveis, tendo sempre em comum que as situações haviam se passado nos plantões de Beverley e, além disso, de terem apresentado os mesmos sintomas. Nada disso, entretanto, até aquele momento, dirigiu as suspeitas para as ações da enfermeira, embora fosse já fosse consenso no hospital de que algo muito errado estivesse ocorrendo.
Claire Peck, a última das vítimas fatais, tinha um ano e três meses quando deu entrada no hospital com uma crise de asma; Beverley ministrou-lhe uma injeção contendo potássio e lidocaína. A criança foi a óbito. Isso, como nos outros casos, também aconteceu quando a enfermeira ficara sozinha no quarto da criança, que estava entubada. Mais uma vez ela gritou pelo socorro em virtude de um “súbito” ataque cardíaco. Os médicos estabilizaram a paciente e ela de novo ficou a sós com a vítima e, incrível, mais uma vez, nova parada que, a despeito dos esforços da equipe médica, levou a menina a falecer. Mesmo com o resultado inconclusivo da autópsia, um inquérito foi aberto para apurar o elevado número de paradas cardíacas na unidade pediátrica do Grantham Hospital.
A investigação buscou por uma eventual situação de epidemia hospitalar, tal como a existência de algum vírus, mas não encontrou nada. Porém, um novo teste no sangue da última vítima, revelou um nível alto de potássio, o que indicava ação externa no óbito. Mesmo diante desse resultado, ainda passariam dezoito dias até que a polícia fosse acionada.
O corpo de Claire Peck foi exumado e novos testes detectaram a presença de lidocaína (comum em casos de parada cardíaca, mas nunca em bebês); o Superintendente Stuart Clifton, finalmente, se convenceu que havia um assassino atuando ali.
Clifton examinou outros casos, onde detectaram um teor excessivamente grande de insulina, e descobriu que a enfermeira Beverley Allitt havia relatado o sumiço da chave da geladeira onde guardavam a substância.
Numa conferência dos registros diários da enfermagem descobriram que faltavam as páginas do período em que Paul Crampton estivera internado, o que era suspeito. Analisando ao todo treze situações parecidas, quatro delas resultantes em óbitos, encontraram um único padrão: Beverley Allitt era a única presença comum em todos eles; em três semanas ela foi finalmente presa.
Presa, Beverley foi visitada por um psiquiatra, que lhe diagnosticou a variante da síndrome de Münchausen. Nem ele, nem os responsáveis pelo inquérito, obtiveram uma confissão. Após quatro audiências ela foi formalmente acusada por quatro homicídios, onze tentativas de homicídio e outras onze de lesões corporais graves.
Os pais das gêmeas Katie e Becky chegaram a contratar um detetive particular a fim de comprovar a inocência daquela que fizeram madrinha de uma das vítimas - mas logo se arrependeram, quando confrontados com os fatos.
Suas "doenças" provocaram inúmeros atrasos no julgamento; ela havia perdido peso rapidamente em razão da anorexia, outra demonstração de seus distúrbios psíquicos; finalmente enfrentou o júri no tribunal real de Nottingham, onde os promotores convenceram os jurados de que sua presença era o fator determinante para todas as anomalias apresentadas na ala infantil do hospital de Grantham. Demonstrando frieza, bem como a cessação dos ataques misteriosos quando ela estava ausente ou separada dos pacientes, as evidências indicavam que ela havia ministrado injeções nas vítimas, bem como lhes cortado o oxigênio e adulterado as máquinas que os mantinham vivos.
Foram dois meses de julgamento (ela esteve presente em 16 dias, somente, em razão de suas doenças) até que, a 23 de maio de 1993, recebeu treze condenações à prisão perpétua por assassinato e tentativas. Essa foi a maior condenação, até então, já aplicada no país para uma mulher. Segundo o juiz, isso se dava em parte às vítimas, parte às famílias e, finalmente, em parte pela forma como ela havia lançado dúvidas sobre a nobre profissão da enfermagem.
A síndrome de Münchausen, que alguns especialistas avaliam ser incurável, continuou durante o tempo de prisão: ela se feriu várias vezes para chamar a atenção, furou-se com clipes para papel, derramou água fervente na mão, por exemplo. Na cadeia, ela finalmente admitiu a responsabilidade por três das mortes que provocou, e seis dos outros ataques.
Em 2007 o juiz Stanley Burnton, de Londres aprovou a sentença mínima de trinta anos para Beverley, o que lhe daria vinte e oito anos e cento e setenta e cinco dias até receber a liberdade condicional, descontando-se assim o período de um ano e cento e noventa dias que ficou em custódia antes do julgamento. Ela terá, então, 54 anos de idade, em 2022.
Em sua decisão Burnton declarou, justificando a concessão da liberdade, que a Síndrome de Münchausen determinara a conduta da criminosa: "Descobri que existe um elemento de sadismo na conduta da Sra. Allitt e sua ofensa. Mas esse sadismo é, se não o resultado, certamente uma manifestação de seu transtorno mental, e seria excessivamente simplista tratá-lo do mesmo modo como seria se o ofensor estivesse mentalmente bem". Embora tenha ponderado que "Por suas ações, o que deveria ter sido um lugar de segurança para seus pacientes tornou-se não apenas um lugar de perigo mas, senão um campo de extermínio, algo próximo a isso" e que "estes foram assassinatos múltiplos e tentativas de assassinatos de crianças pequenas, cujas vidas foram apagadas antes de terem quase começado".
A reação dos familiares à decisão foi favorável; neste sentido, Joanne Taylor (mãe de Liam) declarou que estava satisfeita com a referência ao sadismo presente na conduta da enfermeira, e que há uma linha tênue que separa o mal da doença. David Peck, pai de Claire, também se manifestou neste sentido.
Katie Phillips, que era irmã gêmea da vítima fatal Becky, ficou epiléptica e com danos cerebrais permanentes, paralisia parcial e cegueira parcial após o ataque. Após oito anos de embates judiciais seus pais receberam das autoridades sanitárias de Lincolnshire, responsáveis pela contratação da enfermeira assassina, uma indenização de 2.125 milhões de libras, em 1999. Ela havia recebido caros tratamentos nos Estados Unidos (incluindo terapia com golfinhos). Esse acordo foi o primeiro registrado na história legal do Reino Unido, para compensar os pais pelo stress pós-traumático, e o dinheiro seria para indenizá-los pelos gastos dos tratamentos passados e garantir os futuros. Em 1996 a mesma autoridade havia feito um acordo com as doze famílias das vítimas para o pagamento de quinhentas mil libras em indenização.
At the bottom of the article, on the right, is Genene Jones, also a prolific baby killer, it's not Beverley Allitt.