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Síndrome de Estocolmo - Origem e casos famosos

Síndrome de Estocolmo, ou Stockholmssyndromet (em sueco), é o nome dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia, amizade, e até mesmo amor, em relação ao seu agressor.


Do ponto de vista psicanalítico, pessoas que passaram por experiências de abuso na infância, com seus familiares ou cuidadores, podem, em certas circunstâncias, desenvolver sentimentos de afeto e apego aos seus agressores. Acredita-se que a identificação emocional do refém com o sequestrador seja, inicialmente, um mecanismo de defesa gerado pelo receio de sofrer algum tipo de violência ou retaliação. Por esse motivo, qualquer atitude aparentemente mais gentil por parte do sequestrador é vista de maneira ampliada pelo refém, sendo tida como algo de proporções muito maiores do que realmente é.


Como se trata de um problema de foro psicológico, uma vítima da síndrome de Estocolmo precisa receber acompanhamento médico, que deve ser realizado especialmente por psicólogos e psiquiatras. Dependendo do caso específico de cada paciente, podem ser receitados antidepressivos e ansiolíticos com a finalidade de reduzir ou cessar sintomas de depressão e ansiedade. Hábitos saudáveis de alimentação e lazer, bem como a prática de exercícios físicos, podem ser extremamente benéficos no processo de recuperação do paciente.


A expressão foi criada pelo psiquiatra e criminologista Nils Bejerot e foi usada na mídia pela primeira vez em 1973, após um roubo a banco em Estocolmo, na Suécia.


Há 46 anos, em 23 de agosto de 1973, os assaltantes Jan-Erik Olsson e Clark Olofsson decidiram invadir e roubar o banco Sveriges Kreditbank of Stockholm. Naquela manhã de agosto, as portas do Sveriges Kreditbanken, no centro da capital sueca, tinham acabado de ser abertas quando um homem entrou com uma maleta, sacou uma metralhadora e disparou para o teto. O incidente ocorrido na Praça Norrmalmstorg, zona nobre da cidade, entrou para a história em virtude dos fortes laços que se formaram entre os reféns e seus captores.


Olsson amarrou seus quatro reféns e começou a fazer suas exigências. Pediu uma grande quantia em dinheiro, um carro e que lhe trouxessem Clark Olofsson, criminoso que cumpria pena em uma prisão do país. Olsson estava particularmente calmo por causa da experiência que tinha, afinal, desde os 16 anos que cometia crimes. Em 1973, já tinha 32 anos.


"Fiquei com medo, claro", relembra Kristin Enmark, uma das reféns. "Me joguei no chão. O ladrão veio em minha direção e fez sinais para que eu e uns colegas nos levantássemos. Acho que meu cérebro deixou de funcionar. Quando pediu que trouxessem o outro criminoso, pensei: 'Isso vai ser um inferno'. Olofsson era muito famoso na Suécia, considerado uma pessoa extremamente perigosa. Era um terror sem nome. Nem em meus piores pesadelos eu imaginara que algo assim poderia acontecer comigo." À época ela tinha 23 anos.


Para diminuir a tensão, a polícia atendeu o pedido de Olsson e tirou Olofsson da cadeia, permitindo que ele entrasse no banco. O primeiro criminoso, Olsson, aterrorizava Kristin, mas, gradualmente, ela começou a ver Olofsson como um amigo.


"Ele me acolheu sob seu manto protetor e me disse: 'Nada vai acontecer com você'. É difícil explicar a pessoas que não passaram por essa situação o quanto isso foi importante para mim. Sentia que alguém se importava comigo. Talvez fosse um tipo de dependência." Outra refém, Elisabeth Oldgren, também disse que Olsson cuidava dela — emprestando-lhe o casaco quente para dormir quando estava muito frio.


Não demorou muito até os reféns começarem a temer mais a polícia, que poderia invadir o banco de uma forma bruta ou até letal, do que os raptores.


No segundo dia do assalto, a refém (Kristin) sentia tanto respeito por Olofsson que, quando ele deu a ela o telefone do então primeiro-ministro da Suécia, Olof Palme, ela não hesitou em pedir ao premiê que deixasse os criminosos em liberdade.


As autoridades tentaram cortar a luz e impedir o fornecimento de comida e água como forma de forçar a rendição, mas nada parecia resultar. Três dias depois do início do rapto, começaram a perfurar o cofre.


Olsson ficou furioso e começou a disparar, ameaçando que ia matar os reféns. Foi só ao quinto dia que a polícia decidiu que a melhor solução seria lançar gás lacrimogêneo para dentro do banco. E foi assim que aconteceu, no sexto dia de sequestro, que a polícia conseguiu desarmar os sequestradores. Olsson finalmente se rendeu. Quando a polícia entrou para prender os raptores, os reféns insistiram que Olsson e Olofsson fossem levados à sua frente para que não fossem alvejados.


As vítimas foram levadas para o hospital e vistas por especialistas, que ficaram surpreendidos com as suas reações ao que tinha acontecido. Com o passar do tempo, tudo acabou por se normalizar. Kristin voltou a casa e começou a estudar para se tornar uma psicoterapeuta.


Já Olsson foi condenado a mais dez anos de prisão pelo que fez. Durante o seu tempo na cadeia recebeu várias cartas de fãs e, quando saiu, casou-se com uma delas e mudou-se para a Tailândia. Depois de ser libertado, nunca mais teve problemas com a Lei.


Olofsson foi absolvido em segunda instância, ao alegar que não era parceiro, mas apenas mais um refém que tentava ajudar os outros, porém, se envolveu em problemas com a polícia diversas outras vezes em sua vida.


Kristin Enmark e Jan Erik Olsson - Em 1973 e em 2017

Hoje, passados mais de 40 anos, Kristin Enmark ainda se refere a Clark Oloffson como seu amigo e os dois ainda se correspondem. Ela nunca criticou seus atos. Anos depois escreveu um livro sobre sua experiência. Nele, ela argumenta que a Síndrome de Estocolmo não existe. Olsson também disse não acreditar na existência de uma síndrome e diz que a amizade que desenvolveu com seus reféns era verdadeira.


A síndrome, também conhecida como Vinculação Afetiva de Terror ou Traumática, não é reconhecida pelos dois manuais mais importantes da psiquiatria - o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM, ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e o International Classification of Diseases (ICD, ou Classificação Internacional de Doenças).



Casos famosos da síndrome de Estocolmo


Além do assalto que deu o nome à síndrome, outros casos reais desse transtorno psicológico ficaram famosos e tiveram, com isso, grande repercussão midiática e destaque no cenário mundial. Confira os principais casos de vínculo afetivo entre refém e sequestrador:


Patty Hearst


Em 1974, Patrícia Campbell Hearst, mais conhecida como Patty Hearst, foi sequestrada por um grupo terrorista americano. Neta de um magnata americano, tornou-se talvez o caso mais famoso de pessoa com Síndrome de Estocolmo.


Patty foi acusada de se unir voluntariamente a seus sequestradores, vivendo com eles e passando a ser cúmplice dos assaltos que eles cometiam. Ela foi encontrada e libertada do cativeiro 1 ano e 7 meses após o sequestro. Nesse período, ela já era considerada uma fugitiva procurada por ter cometido uma série de crimes.


Em seu julgamento, foi condenada a 7 anos de prisão. Patrícia cumpriu parte da pena e recebeu um indulto do então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter e posteriormente o perdão do presidente Bill Clinton. Anos depois também lançou um livro.


Natascha Kampusch


Natascha é uma austríaca que foi sequestrada por um homem chamado Wolfgang Přiklopil em 1998, aos 10 anos de idade, quando ia para a escola. Durante os longos 8 anos em que esteve isolada do mundo, a jovem foi privada de luz e comida, sendo ainda vítima de constantes agressões e humilhações de teor físico, psicológico e sexual.


Aos 18 anos de idade, Natascha conseguiu escapar de seu cativeiro durante um momento de distração de seu sequestrador que, posteriormente, acabou por se suicidar quando soube que estava sendo procurado pela polícia.


A jovem demonstrava um certo sentimento de gratidão por ter sido poupada de diversas coisas como cigarro, bebidas e más companhias graças ao tempo em que o sequestrador a havia mantido em cativeiro. Chegou, inclusive, a se referir a ele como uma pessoa gentil e diz que chorou muito quando soube de sua morte.


A mãe de Natascha revelou em um livro, posteriormente, que a filha guardava uma foto do caixão do sequestrador na carteira.

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